COMENTÁRIO EM TRÊS TEMPOS

Por Nerval Pedro Pires da Silva

PRIMEIRO TEMPO - De uns dias para cá, as ruas da cidade estão apresentando melhores aspectos - mais limpas. Entretanto, isso não quer dizer que seja o desejado. O ideal mesmo seria fazer o serviço pelo sistema convencional, ou seja, com uma espátula e um banquinho extirpando o mato pela raiz que nasce nos vãos dos paralelepípedos. Da maneira que estão procedendo, daqui mais alguns dias, o trabalho terá que ser refeito, e isso demanda recursos que poderiam ser evitados se usassem os métodos tradicionais. Mas “quando não se pode fazer o que quer, é preciso querer o que se pode” - já dizia Terêncio.

Pode ser até bom para a empresa que terceirizou os serviços, mas para nós que pagamos é oneroso de mais. É só pegar um lápis e papel e se prestar a fazer as contas. Mas a responsabilidade da prefeitura não acaba por aí, ela teria que completar os serviços de limpeza pública adquirindo lixeiras, e implantá-las de quarenta em quarenta metros nas calçadas e praças, e completar com uma campanha maciça de educação nos meios de comunicação que dispomos. Aí sim, em curto prazo teríamos com certeza a resposta da população. Vamos nessa Canduca, tome coragem, faça este seu secretário trabalhar, já que você continua insistindo tanto com ele, indo contra os anseios da própria população que o elegeu. Quer me parecer essa tua atitude de teimosia igualzinho a famosa vitória de Pirro. Quer saber melhor sobre essa história? Eu te conto: Pirro, o rei, ao derrotar os romanos na batalha de Heracléia, perdeu muitos elefantes, cavalos, armas e muitos homens. Eis a sua frase que ficou famosa: “Com mais uma vitória desta estarei arruinado” – pelo jeito fez discípulo, não?

SEGUNDO TEMPO – O nosso querido burgo mestre foi contra todas as previsões mesmo, atirou para escanteio um engenheiro com experiência em administrações anteriores, e que sobre tudo, se atirou de corpo e alma na sua eleição. Para que não bastasse, chutou um outro companheiro seu que o lançou candidato pelo seu partido, senão dificilmente estaria aí. Se esses equívocos não tivessem ocorrido, por certo teríamos uma secretaria de obras bem planejada e mais próxima do povo.

TERCEIRO TEMPO – Os ponteiros do relógio de parede do escritório apontavam exatamente 22hs00 da noite das eleições. Estávamos nos desconectando da internet. já havíamos terminado as matérias para o Bacucu com Farinha e para o Blog do Reginaldo. Estávamos cansados mesmo. Final de festa - Neutinho já tinha ido embora com todos os seus instrumentos de informática, aliás, quase todos os que aqui estavam - ficando somente a me fazer companhia, o Maurício Scarante, Danilo Gomes e o Leandro Cardoso Branco. De repente, eis que inopinadamente adentra a porta quase fechada do escritório - o prefeito eleito, que cumprimentou a todos acompanhado de um abraço. Após alguns instantes de conversa, despede-se e vai embora. Não fui acompanhá-lo até a porta, permaneci sentado como estava. Assim que ele saiu, o Maurício, o Danilo e o Leandro com ar eufórico viraram-se pra mim e disseram: legal Nerval, ele ter vindo lhe visitar, foi muita consideração da parte dele, não acha? Eu, então, calmamente lhes respondi: engano seus. Ele veio aqui para trazer o seu abraço de despedida seus bobos - o seu divórcio de nós a partir de agora. Ele já obteve aquilo que queria de nós, está agora nos descartando sumariamente, exatamente como fizera os seus antecessores. Sempre foi assim. Maurício quis me contestar de todas as formas, mas arrematei: então esperem pra ver.