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sexta-feira, 3 de julho de 2009

CRÔNICAS DA CIDADE Nº 72

COM A ROLHA JÁ NO FUNDO


A partir de uns três meses para cá, o município vem registrando uma crise de proporções nunca visto em sua história - se não é a maior estará por certo entre elas. Só os cegos é que não vêem - ou não querem ver?


Não há investimentos no setor imobiliário, por conseguinte padece a construção civil. Paralisada esta atividade, se enfraquece o comércio de vendas de materiais de construção. Somente com isso já foi para espaço em torno de oito a nove atividades geradoras de riquezas do município, senão vejamos: os escritórios prestadores de serviços burocráticos e correlatos; os engenheiros civis; os pedreiros; os carpinteiros, pintores, encanadores, eletricistas, o empresário do comercio de materiais de construção e seus funcionários - fora outras mãos de obras que indiretamente dependem do setor.


Os Portos capelistas que empregavam entre mil a mil e quinhentos trabalhadores, distribuídos entre os sindicatos dos arrumadores, estivadores, vigias e consertadores, e dentro da própria burocracia dos terminas, estão por obra do nosso querido e idolatrado governador praticamente a não ver navios.


A agricultura, incipiente ainda, não se pode esperar muito dela, mas, pelo menos refreia um pouco o êxodo rural, mantendo assim aquele pessoal junto a terra - pior seria a debandada destes para a cidade. Seria um deus nos acuda! O comércio em geral, em franco estado de retração, se ressentindo desses fortes efeitos, não compram e nem vendem, e não prestam serviços, lhe restando unicamente o caminho tortuoso das demissões, que muitas vezes corroborado pelos escorchantes aluguéis lhes aplicados, muitos acabam fechando as portas.


A indústria, esta, objeto de luxo por essas plagas, não contribui praticamente em nada com a nossa economia – restando somente a indústria dos cabides de empregos, proporcionada pelos prefeitos comprometidos em épocas eleitoreiras, inchando desta forma os quadros da prefeitura com uma folha de pagamento astronômica. Atentem para esses detalhes interessantes: no governo de Paulo Vergílio Savarim, o serviço de recenseamento acusava uma população em torno de trinta mil habitantes. Nessa época até 1982, havia quatorze indústrias de palmitos e três a quatro madeireiras. O sistema portuário antoninense que compreendia unicamente do Porto Barão de Teffé, encontrava-se em franca atividade.


A Siderúrgica Fergupar empregava mais de 250 pessoas. O comércio, a partir das Casas Pernambucanas, ia de vento em popa. Tínhamos quinhentas e poucas inscrições estadual de comércios com registros na Jucepar. O Paulo tinha na prefeitura, herdado pelo seu antecessor, um total de duzentos e cinqüenta funcionários, entre operários, serventes, burocráticos e professoras, e, reclamávamos constantemente na câmara que a máquina estava inchada. O serviço público trabalhava como um relógio, tudo funcionava perfeitamente. A câmara tinha somente duas funcionárias e nós vereadores não recebíamos um centavo dos cofres públicos, e em compensação, trabalhávamos de duas a três sessões por semana. Isso tudo ainda sem a implantação dos computadores no serviço público que, com o seu emprego, julgávamos que o quadro de funcionários tenderia a diminuir um terço.


Hoje, a população diminuiu vertiginosamente em torno de dezesseis a dezenove mil habitantes – atentem novamente para esse detalhe: entretanto, temos quase beirando os mil funcionários com um serviço público que deixa a desejar, indo desde os comissionados à limpeza pública. Há salas que não tem espaço físico mais para comportar o pessoal da própria seção, então, ficam os coitados a vagarem pelos corredores a fora. Eles não têm culpa de nada. Tudo é obra desses prefeitos irresponsáveis desses últimos tempos. Periodicamente, promovem concursos públicos pra que? Pra fazer o que? Para trabalhar onde, se a prefeitura não tem mais espaço físico nem para comportar o que já tem que dirá admitir mais? Responder-me-ão eles certamente, que é de lei, de justiça... Que justiça? Sempre que a justiça é levada ao extremo, passa a ser uma extrema injustiça.


E, nesse labirinto que estamos metidos, há, todavia, de se perguntar: cadê a nova administração que não previu que tudo isso era iminente? Não se planejou para enfrentar os desafios criados pelas incompetências de seus antecessores? Não se promoveu a auditoria, tão necessária para moralizar o serviço publico? Não se acercou de homens competentes para destrinchar estes problemas que estão aí levando ao desespero esses jovens, empresários, empregados da orla marítima e tantos outros? Esperávamos pelo menos que o novo-burgo-mestre, tivesse um espasmo de lampejo em seu cérebro, e nomeasse para uma importante secretaria como é o caso da indústria e comércio, um elemento conhecedor do ramo, com real competência para gerenciá-la e, com sensibilidade suficiente para sentir a importância de se criar nova frente de trabalho, gestionando junto aos empresários de fora até mesmo com a secretaria de estado algumas indústrias de pequeno porte - mormente agora que o povo e a cidade dependem com urgência de resultados imediatos.


No entanto, para surpresa nossa, contrariando todas as expectativas, e causando uma decepção coletiva, eis que o Canduca vem de Márcio. Pode! É mole o quer mais! Qual é a tua Canduca? Com essa atitude de escárnio, fica claro que ele está subestimando a nossa inteligência, tirando sarro da cidade e do povo que o elegeu depositando nele todos os seus sonhos de mudanças e realizações!

Nerval Pedro é escritor e comentarista (em 03.07.2009)

2 comentários:

Masca disse...

Nerval.
Há muitos questionamentos a serem feitos, e só são 6 meses.

Masca disse...

Nerval.
Há muitos questionamentos a serem feitos e só são 6 meses.