“Recordar é preciso, viver não é preciso”.
Essa frase não está escrita corretamente como quis dar seu autor Fernando Pessoa. Fui audacioso ao ponto de suprimir-lhe “o navegar”, e a substituir pela palavra “recordar”, para justificar o sentido real dessa crônica que já se fazia urgir, como forma de resgatar as grandes injustiças que de vez em quando se comete por aqui - principalmente com os nossos verdadeiros heróis.
Júlio José Cheavenato, eu seu livro, o Genocídio Americano, que relata a criminosa Guerra do Paraguai e sua tríplice aliança, em seu preâmbulo, me sai com essa: “A história é, às vezes, madrasta. Cobre de louros os que poucos ou nada fizeram e obscurecem os méritos dos verdadeiros heróis”. Essa sentença lacônica e moral é uma tapa no rosto das autoridades, e ao próprio povo guarapirocabenses!
Diariamente em meu modesto ambiente de trabalho, deparo com esses fatos que já se tornou corriqueiro. Quando estou a digitar documentos que exigem dos clientes o nome de suas respectivas ruas, na maioria das vezes me dá vontade de sair por aí xingando de cambadas de vereadores, esses, que no afã de contabilizar votos, procederam dessa forma criminosas com a história da cidade, na concessão indiscriminada de nomes de ruas a pessoas que jamais justificaram tamanhas honrarias, e que na maioria dessas nem se conhecem os agraciados.
Leopoldino também foi useiro e vezeiro dessa prática irresponsável – acho até, que em algumas das vezes, ele o fez como forma de escárnio.
A Munira não deixou por menos, também usou e se lambuzou desses artifícios inescrupulosos para apascentar amiga com nomes de parentes em escolas e ruas.
Muitos me perguntam se isso tem conserto - e eu sempre lhes respondo que sim, desde que um dia o povo eleger vereadores compromissados com a ética, com a moral, e, sobre tudo com verdadeiro sentido do amor – revisarão, não tenho dúvidas, todas essas anomalias, e farão já em tempo, justiça aos nossos verdadeiros heróis ancestrais.
Quantas histórias fizeram estes homens das estaturas de um César Mussi; de um Manequinho Picanço; do Dr. Carlinhos Maia; do Barão de Antonina; de Francisco Liberto de Matos; do Capitão Mor Manoel José Álvares; da própria instituição “Tropa de Escoteiros Vale Porto”! Até quando estes hão de permanecer no esquecimento deste povo sem memória da sua própria história?
Mas, deixemos um pouco de lado esta parte por em quanto, para recordar um pouquinho de algumas passagens da nossa história contemporânea.
1972 - a Rádio Antoninense Ltda, entrava novamente no ar graças ao sacrifício ingente de alguns abnegados como Ari Fernandes, Zé Maria Sthorach Filho, o padre Albino, e este comentarista bocudo aqui.
Não vou aqui dissecar as razões pelas quais quase a perdemos, mesmo por que já o fiz em relato de fio a pavio em meus comentários sobre “Como Anda a Cultura em Nossa Cidade”, postada pelo Bacucu com Farinha todas as semanas em XV capítulos. Vou apenas me ater em um programa criado por mim, que ia ao ar todos os dias ao meio dia de nome “O Grande Jornal da RA”, com uma hora de duração, onde fazíamos cultura, comentários sobre o dia-a-dia da cidade, no auxílio aos pescadores e navegantes com as tabas das marés diárias, entradas e saídas de navios, e críticas e elogios aos nossos governantes, além de atendermos as solicitações dos ouvintes.
A princípio comecei sozinho, mas devido à demanda das informações que nos chegava a todo o instante, e o aumento ascendente de audiência, fui obrigado a trazer mais gente para o programa e montar um casting formidável.
Primeiro vieram às bela Iara Sarmento e a Marília Rio Appa, com seus desmedidos talentos e suas arrebatadoras graças. Ambas estudavam pela manhã no Colégio Moisés Lupion, não lhes sobrando tempos para decorar os textos, pois nem bem chegavam em casa para o almoço e já tinham que correr para os estúdios.
Pedi ao Alceu Bichaço, como Diretor do SAMAE e assessor direto do prefeito, que passasse as informações daquele setor. As informações gerais e políticas ficavam a cargo do dentista Dodô Picanço. Depois vieram o Alfredinho Jacob Filho e o Celso Meira para compor na locução. Formamos, então, um timaço de primeiríssima linha, levando a audiência num pique nunca visto. Antonina ao meio dia parava para ouvir o Grande Jornal RA.
Não tínhamos tempo para compor um jornal dentro dos padrões que exigia Dodô, não obstante, também lhe faltar tempo para compor. No interregno de uma anestesia e outra aplicadas em seus clientes, e, sobre o espaldar da própria cadeira do consultório, estava lá ele escrevendo e nos passando o escript, ora em forma de rascunhos ou pelo telefone mesmo.
Em seu consultório, munido de um radiozinho de pilha e o telefone ao lado, ao meio dia, estava ele lá ouvindo o programa - tudo com uma percepção incrível. Não deixava passar nada – sentia o pique de audiência nas polpas dos dedos e, de quando em quando, estava a telefonar para o estúdio exigindo mais concentração de todos nós. Era um perfeccionista de uma figa e um resmungão inveterado – dificilmente mostrava o seu polegar apontado para cima, e o dia que o fazia nós todos comemorávamos.
Brigávamos o tempo todo – ele pela perfeição, e, eu, pela assiduidade do programa e da qualidade de informações. Mas uma coisa nos unia em comum: eu gostava muito dele e sabia que havia reciprocidade, pela nossa tradição de escoteiros e, de sonharmos com uma Antonina grande e progressista.
Em suma, ele teve assim como eu, oportunidades de ficarmos muito bem de vida lá fora, pois ao se formar tivera convites e mais convites para montar sua clinica em Londrina ou Maringá, como tivera eu também, oportunidades dentro do próprio banco no qual trabalhava, onde meus diretores solicitavam para que eu não saísse. Resolvemos trocar isso tudo que nos se apresentava por este torrão, e lutarmos aqui com as forças que dispúnhamos para o seu bem e a felicidade desse povo, não obstante, sempre estarmos em posições partidárias contrárias.
Dodô elegeu-se vereador mais votado na história de Antonina, e depois mais tarde, fora derrotado nas eleições a prefeitura, frustrando assim os seus sonhos de um dia chegar a ser o prefeito e fazer tudo àquilo que sonhava para a cidade.
Quanto a mim, elegi-me vereador, sendo o terceiro mais votado. Ao término do meu segundo mandato, tentei com todas as experiências acumuladas nesses tempos, eleger-me prefeito, quando fora derrotado inapelavelmente pelo populismo que já mostrava novamente os seus tentáculos.
Meus sonhos, assim como o de Dodô foram frustrados, e ainda jovens nunca mais participamos como candidatos a cargos eletivos nenhum. Hoje eu tenho a absoluta certeza que Antonina além de dever muito a esse seu grande filho que já nos deixou, perdeu a grande oportunidade de tê-lo também como seu governante. Quanto ao meu caso... Bem, deixemos isso pra lá.
(Nerval Pedro é escritor e comentarista).
Nenhum comentário:
Postar um comentário